Capítulo 1
“Porque dizem que lar é
onde o coração se grava em pedra
É onde você vai quando
está sozinho
É onde você vai para
descansar seus ossos
Não é só onde você
encosta sua cabeça
Não é só onde você faz a
sua cama
Contanto que estejamos
juntos, importa aonde vamos?”
Trecho da
canção –Home –Gabrielle Aplin
Seguro firmemente a chave em minhas mãos mal acreditando que consegui.
Finalmente vou poder realizar meu sonho, minha confeitaria!
–Eu espero que você possa ser muito bem-vinda à nossa pequena cidade
garota. –Dona Mary fala ao dar um tapinha em minhas costas. Ela era a dona da
padaria que agora eu aluguei, tem idade avançada e diz que vai embora para casa
da filha em uma cidade próxima daqui de Lexington, Virginia. Mal acreditei
quando vi o anúncio online da padaria, na hora soube que tinha que ser minha,
mudar de cidade e começar uma nova vida era tudo que queria e essa oportunidade
veio na hora certa.
–Senhora Mary obrigada, já me sinto bem- vinda, aqui me parece ser uma
cidade muito acolhedora e espero que venha me visitar aqui quando inaugurar a
confeitaria.
–Oh minha querida eu virei, pode esperar, mas quero lhe dar um presente
de boas vindas. – ela sai e vai para os fundos da padaria, volta carregando um
pequeno caderno nas mãos. – Aqui, quero que fique com isso é o caderno de
receitas que era de meu avô, ele era um padeiro e me ensinou tudo que sei e
como ninguém da minha família se interessa em cozinhar e fazer doces quero
passá-lo pra você, pois sei que irá fazer bom uso dele, aqui tem muitas
receitas especiais que você poderá usar.
Sinto meus olhos lacrimejarem, de tanta emoção, o que está senhora esta
me dando é uma pura riqueza e eu me sinto honrada, eu sei o que isso significa
para quem tem uma relíquia de família, minha própria avó me deu seu livro de
culinária antes dela partir e eu o guardo como se fosse o maior tesouro do
mundo, tudo que hoje eu sei, foi graças a ela, que sempre estava com a barriga
perto do fogão e com as mãos sujas de farinha, e eu como sempre ao seu lado
absorvendo tudo e fascinada com toda aquela magia que é a arte de transformar
os alimentos em um doce especial.
– Eu não sei nem como agradecer, isso é maravilhoso, vou cuidar muito
bem dele, a senhora pode ter certeza. Minha avó também me deu seu caderno e
muitas receitas dela eu quero colocar a venda aqui, vou com certeza explorar
seu livro e batizar uma de suas receitas com seu nome e vendê-la aqui para lhe
agradecer por esse presente especial. – a ideia veio tão firme na minha cabeça
que não via a hora de ver logo a confeitaria inaugurada.
– Oh minha querida nada me faria mais feliz! –disse ela com lagrimas nos
olhos – Isso tudo aqui que você vê hoje foi minha vida por mais de 40 anos,
espero que lhe traga tanta felicidade pra você quanto trouxe á mim, agora
preciso ir, você tem o telefone da minha filha, qualquer coisa que precisar
pode me contatar, você ira adorar a cidade ela é pequena mais acolhedora e
mágica.
Nos despedimos e eu logo tranquei a porta da confeitaria, não precisaria
de uma reforma, pois a senhora Mary havia feito uma a um ano atrás e ela estava
em perfeitas condições de uso, muitos dos equipamentos eu comprei dela, só
precisaria mesmo de uma nova pintura, porque eu sempre tive o sonho que minha confeitaria tivesse as paredes
com tons de rosa clarinho, e mesinhas redondas brancas com estofado floral e os
quadros que minha avó pintou decorando todo o lugar. Ela era uma mulher muito sábia e criativa, além é
claro de adorar cozinhar, ela tinha outra paixão por pintura e fez vários
quadros pra mim antes de falecer, todos eles pintados com açúcar tingido, eles
eram de bolos e doces, pães, rolos de massa, são magníficos e brilham com cores
suaves, e o resultado ficará espetacular quando eles decorarem as paredes aqui
da confeitaria.
Ainda bem que tudo já esta acertado com os pintores que virão amanhã e
os móveis chegarão em dois dias, enquanto isso eu tenho que me ocupar do
cardápio, compra de mercadorias e contratar pelo menos uma funcionária para me
ajudar, são tantos detalhes, mas eu não poderia estar mais que feliz, nada
disso estaria sendo possível se não fosse pela pequena herança que minha avó me
deixou, em sua carta ela me disse que era o sonho dela que eu abrisse minha
própria confeitaria e que eu não poderia deixa- lá mais feliz com isso, e mesmo
depois que tudo aconteceu não poderia deixar de cumprir tudo que ela sempre
quis pra mim, então me mudei pra longe dele; Willian, meu ex noivo que me traiu
no pior momento de minha vida, depois que tudo aconteceu essa mudança foi mais
que necessária pra mim e veio em boa hora depois da morte de minha avó, minha
única parente viva.
O
recomeço sempre é difícil. Arrancar sentimentos e ter que fingir que tudo esta
bem quando seu coração está sangrando não é sempre fácil.
Às vezes me pego pensando que já não tenho mais ninguém no mundo, sou
sozinha e isso me entristece, nunca pude cultivar nenhuma amizade, tudo por
causa dele que era possessivo e não deixava ninguém se aproximar de mim. Eu
morei a vida toda com minha avó, minha mãe morreu ao me dar a luz e nunca soube
quem era meu pai, minha avó diz que ele sumiu do mundo e minha mãe nunca disse
nem ao menos seu nome, por isso fui criada por ela, e desde o colégio namorei
com Willian, no começo nos dávamos bem, mas com o passar dos anos ele foi se
tornando muito ciumento e possessivo em relação a mim, isso foi me consumindo
aos poucos sem eu nem me dar conta, era uma cega e tola, uma menina ingênua,
que mal sabia das reais circunstâncias da vida. Sempre acreditei que amor é amor,
posse é posse. E um anula o outro completamente e Willian achava que tinha
posse de mim, era controlador e obsessivo.
Tudo foi desmoronando depois que me formei na faculdade de
administração, minha avó, começou a ficar doente, eu trabalhava um escritório
de contabilidade e tinha um patrão horrível. Willian foi ficando cada vez mais
e mais ciumento com meus colegas do trabalho, isso tudo foi me desgastando ao
ponto de eu quase enlouquecer, até o dia que minha avó teve que ser internada e
veio a falecer, cuidar de seu funeral e tudo mais foi tão desgastante pra mim
que eu mal conseguia forças para levantar da cama, acabei perdendo o emprego, e
peguei meu noivo me traindo com uma de suas coleguinhas do trabalho no maior
amasso no carro, desde então não conseguia sequer respirar naquela cidade,
precisava ir embora e desde que encontrei a carta de minha avó no testamento,
foi tudo que precisava para partir.
Penso em como pude ser tão tola, tão ingênua, e
porque eu e muitas pessoas ficamos adiando e matando nossos sonhos e nos
privando de felicidade... Isso é tão covarde! Mas se eu tivesse que chutar,
diria que tem muito a ver com o medo. Medo do fracasso. Medo da dor. Medo da
rejeição, no meu caso medo de ficar sozinha. Seja lá do que a gente tenha medo,
uma coisa é sempre verdade: com o tempo, a dor de não ter tomado uma atitude
fica pior do que o medo de agir. Eu compreendi e consegui fazer a mudança
necessária por meio da dor da perda e da traição, e hoje não quero mais
desperdiçar meus dias em uma existência vazia, morna, com insegurança, quero
viver a vida, quero amigos que
caminham comigo, um amor que me respeite e que mostre a cada dia o melhor em
mim. Quero fazer valer a pena...
Quero o que é
simples. Por isso sou grata por estar aqui agora, com uma vida inteira nas mãos
e a incerteza do que virá pela frente...
Ando devagar pelas ruas de Lexington, minha nova cidade é pequena com
muitas árvores e cercada por uma floresta, é calma e parece ser uma comunidade
unida e receptiva. Meu novo lar é um sobrado de dois andares com paredes de
tijolinhos as janelas são todas de vidros com contornos em branco, meu pequeno
apartamento alugado fica a duas quadras da confeitaria o que é perfeito, pois
nem preciso de carro, posso fazer tudo a pé. Subo a pequena escada que dá no
segundo andar do prédio, o andar debaixo tem dois apartamentos já alugados,
meus novos vizinhos são simpáticos, dona Eulália uma senhora de uns quarenta
anos mora sozinha e no apartamento ao lado um casal Dimitri e Simone são
namorados e moram juntos, eu moro sozinha sem vizinhos no andar de cima, o que
é perfeito, não que se tivesse uma vizinho acharia ruim, mas o que mais me
encantei é pela escada que dá no telhado do sobrado , parece que aquela andar é
inteirinho meu e o descobri por acaso na minha primeira noite aqui, quero
decorar ele com vasos de flores, luzes e um sofá confortável de varanda para
que possa ter um lugar especial só meu.
–Salém? – Entro pelo apartamento já chamando meu companheiro
inseparável, meu gato preto com olhos caramelos. Ele vem todo dorminhoco se
espreguiçando e miando pra mim, se esfrega em minhas pernas e eu logo sei que
não estou sozinha no mundo, Salém é meu amigo e nunca me sinto só quando estou
com ele. – Olá garoto, venha vou colocar sua comida.
Depois de alimentá-lo, tomo um banho bem demorado de banheira pra
relaxar de todo o dia exaustivo e só saio quando sinto minha pele toda
enrugada, coloco uma calça de flanela bem velha, uma regata e minhas pantufas,
preparo um delicioso macarrão com queijo e pego uma bela taça de vinho e subo
para o telhado onde consegui colocar uma cadeira velha de descanso, sento e
aprecio o fim do dia sobre as estrelas relaxando e agradecendo por tudo que
esta acontecendo na minha vida e pelas as mudanças que virão pela frente...
Capítulo 2
“Encontrei
uma razão pra mim
Para mudar
quem eu costumava ser
Uma razão
pra começar tudo de novo”
Trecho da canção–The Reason–Hoobastank
–Oh meu Deus esse lugar está maravilhoso!–ouço alguém exclamando de
animação na entrada da confeitaria. Saio dos fundos e vou ver quem é que está
na confeitaria a essa hora, olho no relógio e vejo que são 7:30 da manhã.
–Hum olá, posso ajuda- lá? –pergunto para a garota baixinha, magra,
loirinha com olhos verdes e sardas no nariz, ela provavelmente estava se
exercitando, pois esta toda vestida com short e top e tênis no pé. Não sei o
porquê mais fui logo com a cara dela, estava com um largo sorriso no rosto e
olhando com entusiasmo para a confeitaria.
–Oi eu sou Natalie, vi a placa aqui na frente de contrata-se e se tiver
disponível, eu gostaria muito da vaga. Por favor, você tem que me contratar,
olha só pra esse lugar? É perfeito, todo rosa eu amo rosa, tenho que trabalhar
aqui me diz que a vaga ainda esta disponível? – ela implora já agarrada em
minhas mãos. Definitivamente já gostei dela.
– Olá eu sou Marina, mas me chame de Ninna, você é a primeira a se
candidatar visto que coloquei a placa ali há uns vinte minutos. – rio, pois
assim que cheguei hoje cedo à confeitaria colei a placa na vitrine.
– Jura? Então espera ai. – ela sai correndo
para o lado de fora, arranca a placa e volta correndo para dentro. – Aqui pode
jogar fora, já não precisa mais contratar ninguém, você não vai encontrar
ninguém melhor que eu para o trabalho. –diz decidida.
– Bem ok, mas antes preciso perguntar você é maior de idade né?
– Claro tenho vinte e dois, eu sei é a altura e as sardas. – ela diz
revirando os olhos. – Mas juro sou maior de idade. – ela ri e eu a acompanho.
– Você não perguntou nem pra que era a vaga então tenho que te informar
primeiro pra ver se aceita, eu quero uma assistente para me ajudar no balcão e
em outras tarefas que eu precisar aqui na confeitaria, eu não pretendo
contratar mais ninguém porque não sei como vai ser o movimento aqui, e vou
passar boa parte na cozinha, por isso preciso de alguém para ficar no balcão, o
salário também não vai ser muita coisa de começo, porque sou nova nesta área ,
estou abrindo meu primeiro negócio agora e tenho que ser franca que não tenho
experiência então é tudo novo pra mim ainda.
– Não se preocupe com dinheiro, eu na verdade nem preciso dele, você me
paga o que achar que deve, é serio, eu também tenho que ser sincera eu nunca na
minha vida trabalhei, só quero sair um pouco de casa e ser mais independente,
meu irmão é controlador e preciso sair das garras dele se é que me intende. –
ela diz.
– Não precisa se preocupar por nunca trabalhar, você é comunicativa e
simpática acho que ficar no balcão vai ser prefeito pra você, e quanto ao seu
irmão, não quero ter problemas é melhor você falar com ele primeiro. –digo por
que de homem controlador eu quero distância.
– Não se preocupe com ele, sou maior de idade e posso muito bem
trabalhar, sério não irá ter problemas eu juro. – diz cruzando os dedos
sorrindo.
– Ok você venceu esta contratada. – digo gargalhando com os pulinhos de
alegria de Natalie.
– Oh Ninna, obrigada, você não vai se decepcionar comigo vou ser sua
melhor funcionaria você verá. – diz me abraçando.
– Natalie você será minha única funcionaria, claro que vai ser a melhor.
– digo e nos matamos de rir.
–Quando posso começar? Estou disponível agora mesmo, olha só pra essas
mesinhas que graça, o lugar precisa de uma boa faxina o que acha , vamos
começar a limpeza? – pergunta já arrancando os plásticos das cadeiras.
– Sim estava mesmo pensando nisso, hoje vou tirar o dia para arrumar
tudo aqui, e dar uma boa limpada na cozinha dos fundos, ontem passei o dia com
os pintores que finalizaram a pintura, então só falta à limpeza, e a placa da
frente com o logotipo da confeitaria que mandei fazer, hoje mesmo eles virão
para colocar, espero abrir a confeitaria na segunda e com você me ajudando vai
ser ótimo, pois ainda tenho que comprar muitas das mercadorias e fora passar o
final de semana na produção para que eu possa fazer a inauguração. – digo já
cansada pensando em tudo que tenho que fazer até conseguir abrir a loja.
– Pois bem é bastante trabalho, então vamos fazer assim, eu vou para os
fundos na cozinha e limpo tudinho pra você, não se preocupe, enquanto isso você
sai e vai fazer suas compras com os fornecedores, não precisa fazer essa cara
Ninna eu vou arrumar essa loja aqui e deixá-la mais bonita do que você pode
imaginar, eu amo decoração e sou viciada no Pinterest, quando você voltar vai
estar tudo pronto eu prometo. – diz decidida.
– Vou confiar em você só me prometa que não vai tocar nas paredes,
porque já tenho os quadros que são da minha avó que quero pendurar aqui.
– Eu prometo não tocarei neles, vejo que isso é muito importante pra
você. Me dê seu celular. – ela pede e eu o entrego ela digita e logo seu
celular toca. – Aqui este é meu número assim a gente fica em contato, agora vai
fazer suas coisas e me deixe trabalhar – diz me empurrando para fora da loja.
– Porque eu acho que isso é uma má ideia? – digo rindo.
– Você vai me dar um aumento quando vir o que eu farei com esse lugar.
–Oh meu Deus onde foi que eu fui me meter? – digo fingindo com as mãos
no rosto.
– Ra Ra muito engraçadinha! – Natalie diz me trancando pra fora da
confeitaria. Sigo rindo pela rua em direção ao apartamento para buscar meu
pequeno carro, para passar o dia em compras com os fornecedores. E uma sensação
de calma e bem estar me invade, talvez Natalie seja a amiga que eu sempre
precisei, ela é divertida, espirituosa e parece ser leal. Sorrio com o
pensamento que talvez possa ter encontrado meu verdadeiro lar.
Passei o dia todo, correndo de um lado para
o outro, negociando com fornecedores e fazendo compras, o dia todo em que
estava em contato com Natalie por mensagens ela me respondia “não se preocupe, está tudo ok por aqui” então
não sei o que esperar quando chegar à confeitaria. Eram cinco e meia quando
consegui terminar tudo e corri pra lá para descarregar a carro.
Vi a mudança logo que cheguei e vi à vitrine da loja. Estava
maravilhosa, não sei como, mas Natalie colocou cortininhas francesas brancas e
havia os meus móveis brancos dispostos com meus bolos de andares decorados de
pasta americana em isopor que tinha guardados para demonstração para noivas, à
vitrine estava perfeita no chão tinha um tecido branco perolado com brilhinhos
e pétalas de rosas em vários tons de rosa e lilás e um mostruário para
exposição de doces, cupcakes que ainda haveriam de ser preparados.
Na calçada tinha uma lousa muito charmosa em contorno branco e fundo
negro com arabescos na borda, a lousa abria em cavalete e estava escrito com
giz com uma letra cursiva a palavra “Cardápio”, a porta que também é branca
tinha as mesmas cortininhas da vitrine, abri e fiquei paralisada, olhando todo
o meu maior sonho diante de mim, as mesinhas estavam distribuídas
aleatoriamente e em cima de cada uma delas tinha um porta guardanapo branco,
com eles todos organizados em perfeição e em cima de cada mesa um vasinho
branco delicado com flores em tons de rosa trazia charme ao ambiente. Natalie
estava sentada junto ao caixa com um sorriso bobo, o balcão estava brilhando só
esperando para ser cheio de doces, tortas, roscas, ao lado tinha minha
cristaleira branca vintage também arrumada e pronta para ser cheia com
brownies, cupcakes e afins.
– Natalie meu Deus o que você fez aqui? – foi só o que consegui dizer.
Ela se assustou e levantou depressa.
– Não gostou? Eu jurava que você ia adorar, minha nossa eu posso arrumar
tudo como você quer, não se preocupe eu vou consertar.
–Não Natalie você fez exatamente como eu sonhei esta mais que perfeito,
aliás, só não está perfeito porque ainda faltam os quadros da minha avó. –disse
abraçando ela já chorando de emoção.
–Ninna você quase me matou de susto agora garota. –disse. –Venha ver
aqui atrás do balcão eu organizei toda louça que será usada, lavei tudo na
lava- loucas estão prontas para uso.
Eu dei uma olhada e estava tudo disposta em perfeição toda prataria
branca com os talheres dourado, as taças e copos além das xícaras e pires tudo
arrumadinho em ordem, além das cafeteiras e o balcão de pães com o veuzinho
branco cobrindo a prateleira tudo brilhando, em uma canto da loja tinha um
lindo aparador vintage branco,
com um grande vaso de vidro cheio de lindas flores frescas, tulipas nas cores
rosas, brancas e roxas
–Natalie onde conseguiu tudo isso? –apontei para os itens de decoração
que eu não tinha comprado.
–É meu presente para você de inauguração. Nem venha com essa cara Ninna
pode parar, eu já disse que dinheiro não é problema pra mim, então me agradeça
e aceite, porque deu muito trabalho, você nem imagina o quanto eu tive que
brigar para conseguir tudo isso hoje. – ela disse decidida a me fazer aceitar
tudo.
–Natalie eu agradeço demais, sério está tudo perfeito nem sei como
agradecer, mas não é justo você tirar isso do seu bolso.
–Nem comece dona Ninna –ela aponta os dedos pra mim –Agora venha aqui
ver o que eu fiz pra você para divulgação da loja. Passamos vinte minutos
olhando as redes sociais que ela montou pra mim da confeitaria. –Olhe aqui nos
vamos tirar fotos de todos os bolos que você fizer e postar, isso vai atrair
clientes e noivas, já as guloseimas, podemos colocar uma em promoção todo dia
para atrair os seguidores pelo paladar, não se preocupe, eu cuidarei disso, já
viu meu perfil no Instagram? Eu tiro as melhores selfies, então é óbvio que as
fotos dos seus doces vão ficar maravilhosas e ter muitas curtidas, vai por mim
divulgação é a alma do negocio, fora seu talento é claro.
–Isso é realmente uma ótima ideia Natalie você
arrasou! –exclamo. –Agora funcionária, vamos me ajudar a descarregar o carro,
pensa que a hora do serviço acabou mocinha? Como sempre digo “sem suor não existe
vitória”! Então vamos logo, vamos sou sua chefa megera que explora
os funcionários. – digo a arrastando pra fora.
–Ah eu sabia que você ia mostrar suas garras logo chefa megera. – ela
ri.
Depois que me despedi de Natalie que prometeu passar o final de semana
todo nas redes sociais para promover a inauguração da loja, eu fique para
organizar a despensa e colocar tudo arrumado na parte da cozinha, que é onde
toda mágica vai acontecer, eu quis que a parede que separa a cozinha da loja
fosse instalado um vidro levemente fumê para que possa acompanhar o ritmo da
parte de frente da loja e ficar de olho em tudo que acontece por lá. Perto das
oito da noite estava tudo pronto e arrumado para ser usado no dia seguinte onde
passaria a tarde fazendo doces para a inauguração na segunda, já tinha feito o
cardápio para a semana inteira com as minhas melhores receitas.
Passei mais quarenta minutos pregando os quadros da
minha avó nas paredes da confeitaria, foi o toque final mais que especial para
loja ficar perfeita e combinaram perfeitamente, a Sugar
Love Bakery estava prontinha para ser inaugurada, e orgulho se encheu
ao meu coração. “minha vozinha isso tudo
é pra você, como queria a senhora aqui comigo agora” pensei nostálgica com
a lembrança dela.
Já eram quase nove da noite quando resolvi recolher
o lixo. Estava muito escuro e no céu a lua brilhava alto, enquanto reunia os
sacos escutei um barulho no meio da mata. O fundo da loja dá de frente com a
floresta, Lexington é toda rodeada pela floresta nativa.
Assustei–me novamente com outro barulho, deve ser
um bicho, um gambá certamente. Entrei correndo trancando a porta, com a sensação
de ser observada e corri para frente da loja para sair. O dia foi longo e
cansativo e queria desesperadamente um banho e cama.
Capítulo 3
“Então vamos, se
desapegue
Só deixe acontecer
Por que você não fica
sendo você mesma
E eu serei eu mesmo”
Trecho da
canção –Let It Go–James Bay
Na noite de domingo para segunda eu mal consegui
dormir de tanta ansiedade, acordei às duas da manhã e fui correndo para a loja,
tinha que preparar as massas dos pães e assa-los para que possam sair fresquinhos,
na noite anterior preparei vários cupcakes, brownies, biscoitos, assei
tortas e roscas fresquinhas para vender no dia da inauguração e deixei massas
de bolos prontas para serem montadas hoje ao longo da manhã.
Assim que cheguei à confeitaria, fui para cozinha e
liguei meu aplicativo de musica no celular para me fazer companhia, e preparei
as massas dos pães e logo comecei a assa-los. Tudo estava perfeito, logo todo
lugar já estava com aquele cheirinho de doce no ar.
É
incrível como certos cheiros mechem conosco, tomam conta de tudo e faz a gente
lembrar os momentos bonitos em que vivemos. Esse cheiro de doce, baunilha no ar
me lembram de como fui feliz ao lado de minha avó, então sempre que sinto esse
aroma é inevitável relembrar, permanece bem dentro de mim, bem forte,
esparramando alegrias todas às vezes que exala e enche o ar com nossas
recordações.
“Perfumes da memória o
tempo não destrói e o coração não apaga.”
Fui à frente da loja e conferir se estava tudo
certo, e comecei a organizar o balcão com os doces e roscas, o café era
preparado na máquina na hora para atender aos clientes, peguei a lousa e
escrevi os doces do dia e deixei perto da porta para a hora de abrir.
Tudo passou rápido demais quando dei por mim
Natalie já tinha chegado com meia hora de antecedência, acho que ela também
estava ansiosa.
–Ninna não acredito que chegou o grande dia!
–exclamou. – Toda comunidade já está sabendo e me prometeram que iriam vir aqui
conhecer, aliás, ninguém acredita que eu vou trabalhar aqui e por isso dizem
que vão ter que vir aqui ver com seus próprios olhos. – disse rindo.
–Nem me fale estou uma pilha de nervos, e se
ninguém vier, e se não gostarem de nada? Estou tão nervosa Naty!–a minha
insegurança veio com tudo e de repente comecei a entrar em pânico.
–Nada disso, pare com isso, vai dar tudo certo,
agora vá para a cozinha cuidar das suas coisas e me deixe aqui arrumando tudo,
na hora que der o horário para abrir eu te chamo, vai, vai. – ela me empurrou
para dentro da cozinha.
Na próxima meia hora seguinte os pães e roscas
começaram a sair dos fornos e eu apenas passava as formas para Natalie do
balcão de acesso para ela ir colocando nas prateleiras para exibição.
–Venha patroa é hora de abrir e você deve ter esse
privilegio, vai lá abre a porta, coloca a lousa pra fora e comemora Ninna
porque você conseguiu! Sua avó deve estar muito orgulhosa de você pode ter
certeza. – ela me abraça.
Emocionada vou até a porta e a abro, a brisa da
manhã me cumprimenta e eu faço uma oração silenciosa para me dar sorte.
Sinto uma gratidão imensa ao olhar para trás e
enxergar as mudanças que acompanharam as escolhas que firmei comigo. Sinto que
finalmente assumi as rédeas da minha própria vida, e que tudo que passei fez
com que caminhasse para esse momento.
Sim Naty, minha avozinha está orgulhosa onde quer que ela esteja, penso
comigo.
–Vamos brindar! –Natalie me entrega uma taça de
champanhe, que não faço ideia de onde ela tirou e pega uma para ela. –Ao
sucesso da Sugar Love! –exclama. E nos brindamos, rimos e celebramos.
Perto das onze da manhã eu mal conseguia acreditar,
minha loja estava lotada, conheci boa parte da cidade, graças a Natalie, que
tinha razão em falar que seus amigos e conhecidos da cidade viriam para
prestigiar a confeitaria, recebi tantos elogios que mal continha minha
felicidade, tudo estava se esgotando rapidamente, minha sorte era que eu tinha
exagerado nas quantidades, mas percebi que teria que fazer mais alguns doces na
parte da tarde, porque se o movimento continuasse assim logo acabaria tudo. Ao
meio dia resolvemos fechar a loja Natalie foi buscar nosso almoço e eu corri
para fazer mais cupcakes e terminar umas tortinhas de frutas que foram muito
elogiadas pelos clientes da manhã. Assim que Naty voltou engoli minha refeição
correndo e continuei na produção, Natalie quis me ajudar na decoração de alguns
cupcakes e assim que terminamos entreguei tudo pra ela colocar no mostruário e
na vitrine e dei o aval para ela abrir a loja novamente.
– Que porra você esta fazendo aqui Natalie? –ouço
um grito vindo da frente da loja. Olho pelo vidro e tudo que vejo é uma pessoa
gritando como um louco com uma Natalie muito brava também.
–Lúcios nem começa aqui é meu local de trabalho,
então é melhor você parar de gritar. – ela grita em resposta.
–Natalie Wolfe trabalhando? Isso por acaso é
piada?–o homem rebate. Eu vejo uma cliente entrar na loja e não me contenho e
vou para frente da loja para acabar com a discussão.
–Natalie querida pode atender essa senhora, por
favor? –digo colocando a mãos no ombro dela já a empurrando para o outro lado
do balcão, ela dá um olhar mortal para o cara grande que estava discutindo, mas
logo se recompõe e abre um lindo sorriso e cumprimenta a cliente já se
adiantando em atendê-la.
Eu viro e olho bem para o sujeito em minha frente,
se você me visse naquele momento pensaria que estava calma e serena, mas meu
coração que antes estava estruturado, agora estava batendo como se eu estivesse
em um show de rock bem na primeira fila, batia forte e rápido, nunca senti tal
coisa assim só de apenas olhar para uma pessoa. O homem em minha frente que
está espumando de raiva é extremamente alto, eu chutaria 1,90 de altura, forte,
cabelos negros e olhos prateados, seu rosto tem feições duras, másculas como de
um Deus grego, nunca vi um homem tão lindo, tudo nele grita como dominador e
alfa, ele esta vestido com jeans escuro, camisa preta e botas também pretas e
na cintura um distintivo de xerife, algo em mim se agita com sua presença.
–Com licença. – eu falo do outro lado do balcão,
ele se virá e me nota pela primeira vez, nossos olhares se cruzam, e por um
momento senti meu corpo paralisar. Seus olhos têm mistérios que eu quero
desvendar, tem um encanto que me prende e me puxa. “Deus o que está acontecendo comigo?” penso.
–Eu sou a proprietária da confeitaria e Natalie é
minha funcionária e por acaso hoje é a inauguração, então agradeceria se o
senhor pudesse não gritar com minha funcionaria no seu local de trabalho, pois
vai assustar meus clientes. –digo nervosa com o olhar que ele me dá de quem não
gostou nada do que disse.
–Como é? Natalie é sua funcionária de verdade? –ele
gargalha alto, sua risada é rouca e sexy como o inferno. – Você obviamente deve
ser nova na cidade, pois nunca contrataria Natalie se a conhecesse. Olha, já
vou te avisando, eu sou o irmão dela e conheço minha irmã, por isso não vou
tolerar reclamações a seu respeito na hora que ela pisar na bola com você, não
venha até mim porque eu jamais concordaria com essa maluquice aqui. –ele
vocifera. Puta merda que porra é essa?–penso,
o cara pode ser lindo, sexy e tudo mais é um pé no saco! Que mandão!
–Senhor, eu sou nova sim na cidade, mas não vejo
mal nenhum em Natalie trabalhar aqui,
esta vendo ao seu redor? –Digo apontando a loja a ele. – Tudo isso aqui foi ela
quem decorou, ela trabalhou incansavelmente para me ajudar a abrir a loja a
tempo da inauguração e hoje tem se saído muito bem atendendo a clientela eu não
poderia ter contratado alguém melhor para me ajudar, ela é uma garota doce e
responsável e se você que é irmão dela não consegue enxergar as qualidades da
sua própria irmã então lamento profundamente por ela. – replico em resposta já
com raiva da soberba deste homem arrogante e lindo como um Adônis.
–Hum doce e responsável? Vamos ver até quando você
continuará com essa opinião, tenha um bom dia senhora! – ele gira e vai embora
pisando alto.
–Pra você também senhor! –replico e vou pra
cozinha. Que homem desagradável,
grosseirão, arrogante.
Só depois de uma hora consigo voltar para frente da
loja para falar com Natalie. Levo uma bandeja com cupcakes red velvet e alguns
de chocolate meio amargo, estou colocando tudo na prateleira, quando a vejo se
despedindo de uma senhora que saiu carregando uma torta embalada para viajem.
–Naty tudo certo? –pergunto.
–Tudo as mil maravilhas Ninna, o Sugar Love já é um
sucesso! –ela bate palmas e ri.
–Deus te ouça! Natalie e esse seu irmão, que veio
aqui gritando com você? Aposto que não tinha contado que iria trabalhar aqui
né? – pergunto.
–Não contei– ela diz cabisbaixa. – ele nunca me
deixaria vir se eu contasse, Lúcios é meu único irmão, nossos pais morreram já
faz alguns anos, e desde então ele se tornou irmão e pai se é que me entende,
não me deixa fazer nada Ninna, mal consigo sair e me divertir, estou farta de
ficar trancada dentro de casa, sou maior de idade e mereço viver, já basta ter
que seguir a ordem dele como alfa que dirá como irmão – ela exclama indignada.
Alfa? Que ordem é essa de alfa? Não entendi mais nossa conversa foi logo
cortada com a chegada de um novo cliente.
–Petrus!–Naty exclama animada com nosso novo
cliente. –Não é que você veio mesmo?
–Eu não perderia isso por nada, Naty, trouxe até
minha câmera para memorizar pra sempre o momento em que Natalie Wolfe está
trabalhando atrás de um balcão. – o moço se gaba. Ele também é muito alto, mas
não tanto quanto Lúcios é musculoso, loiro com cabelos lisos caindo sobre a
testa, olhos azuis, é bonito, mais não como a beleza selvagem de Lúcios, argrr
por que estou comparando os dois?
–Petrus conheça minha chefa e proprietária da Sugar
Love, Marina. –Natalie nos apresenta.
–É Ninna Petrus, muito prazer em conhecê–lo e seja
bem vindo a loja. – eu o cumprimento.
–O prazer é todo meu, puxa esse lugar ficou
fantástico, meio rosa demais pra mim, sabe como é, mas está incrível. – ele ri.
–Você é nova por aqui?
–Oh sim eu me mudei há alguns dias, na verdade,
alias só me mudei por causa da oferta pela padaria da senhora Mary antiga
proprietária. – o informo.
–Sim todo mundo conhecia dona Mary aqui ela é muito
querida na cidade, mas me diga Ninna o que você me recomendaria para
experimentar, eu não sou muito fã de doces, mas vou abrir uma exceção para
vocês meninas. – ele diz piscando.
–Bem, então acho que você tem que experimentar à
tortinha de limão, não é tão doce e a massa é crocante, aposto que vai adorar e
se viciar, não vai conseguir viver sem acredite. – digo rindo.
–Oh se você diz vou querer essa então. –da outra
piscadela e senta junto ao balcão. Naty se apressa para pegar seu pedido. –O
que seu irmão achou de você estar trabalhando aqui Naty? –ele diz apoiado ao
balcão com uma sobrancelha levantada.
–Lúcios já deu seu show de boas vindas por aqui,
deixou uma bela impressão a minha chefa não é Ninna? –ela ri
–Oh fala daquele senhor gentil e educado que apareceu
aqui gritando com você? Sim tive o desprazer de conhecer Petrus. – eu zombo.
–Petrus é o melhor amigo de meu irmão. – Naty
comenta.
–Espero que comente com ele a boa impressão que ele
me passou hoje, e me admira você tão gentil e amigo daquele homem das cavernas.
– comento fazendo careta me lembrando da cara raivosa de Lúcios. – O homem
praticamente saiu rosnando daqui! –exclamo
–Posso imaginar que ele fez exatamente como disse.
– E nos três caímos na gargalhada.
–Petrus se me der licença eu tenho que dar uma
checada no forno lá na cozinha, mas fique a vontade, por favor. – digo.
–Obrigada Ninna e parabéns pela abertura desejo
tudo de bom, e bem vinda a nossa comunidade. –Petrus responde. Gostei de Petrus
ele é bonito mais é gentil e divertido, bem diferente do amigo Lúcios.
O dia passou voando e quando dei por mim já estava
na hora de fechar a loja. Naty me ajudou com a limpeza da parte da frente, e se
despediu saltitando feliz com seu primeiro dia de trabalho. Eu por outro lado,
começaria novamente com as portas fechadas a produzir mais doces e sobremesas
para amanhã. Eram nove da noite quando terminei de limpar toda cozinha, já
estava morrendo de fome, e cansada ao extremo, mas feliz como nunca me senti, o
estresse do primeiro dia foi recompensado com os elogios dos moradores e
promessas de que voltariam, pois adoraram tudo que experimentaram na loja.
Tranquei a porta da frente e segui em direção ao
apartamento, quando notei um carro da policia passando devagar na rua me
acompanhando, olhei e notei ser Lúcios ao volante, esperei ele passar para
atravessar à calçada e segui em diante, mas um quarteirão a frente ele retornou
e encostou o carro no meio fio.
–Já é tarde Natalie, chegou há horas atrás em casa,
você ficou até essa hora na loja? –perguntou carrancudo.
–Sim eu estava produzindo tortas e doces para
amanhã, por quê?
–Nada como disse, esta tarde e não é bom ficar
caminhando por ai sozinha, quer carona? –perguntou mal humorado.
–Não obrigada, mas moro no próximo quarteirão e a
cidade é tranquila creio que nada de ruim acontecerá, mais agradeço sua
preocupação xerife. – digo com um sorriso falso pra ele.
–Como quiser. –resmunga e sai com o carro.
Que homem mais rabugento, penso, o que a irmã tem
de simpática esse ai tem de arrogância!
Capítulo 4
“Porque tudo de mim
Ama tudo em você
Ama suas curvas e todos
os seus limites
Todas as suas perfeitas
imperfeições
Dê tudo de você para mim
Eu te darei meu tudo
Você é o meu fim e meu
começo
Mesmo quando perco estou
ganhando
Porque te dou tudo de
mim
E você me dá tudo de
você oh”
Trecho da
canção –All Of Me–John Legend
–A onde você pensa que vai Natalie?
–Trabalhar Lúcios, é serio que você vai ficar de
marcação comigo? Não vê que eu sou maior de idade e posso perfeitamente começar
a trabalhar? Estou cansada de ver você me tratar como uma criança, eu não
aguento mais! Eu sei tudo que você teve que passar com a morte dos nossos pais
e também ter que assumir o posto de alfa na alcateia, mas você tem que entender
que não sou mais aquela menininha que você foi obrigado a criar porque os pais
morreram, tem que me deixar viver e respeitar minhas próprias escolhas. – ela
diz já com lágrimas nos olhos. É sempre assim quando toca no assunto de nossos
pais, eles morreram em uma estupido acidente de carro e desde então, tive que
assumir o posto de alfa na alcateia de lobos e passar a cuidar de minha
irmãzinha que na época era adolescente.
–Eu sei Natalie, você está certa, mas tente ver o
meu lado, me preocupo demais, e você nem sempre foi responsável, esse trabalho
não faz o menor sentido pra mim, você sabe que não precisa trabalhar, por acaso
não temos tudo aqui? –pergunto. Porque nos lobos somos uma comunidade que
vivemos muito, nossos anos chegam a triplicar comparado aos humanos e ao longo
das décadas acumulamos muita fortuna, mas escolhemos viver em sigilo e em paz
dentro da comunidade, uma boa parte do povo aqui de Lexington é da matilha que
eu tomo conta e todos sabem que devem manter nosso segredo longe dos humanos.
–Meu irmão você sabe que temos de tudo, e também
não é por isso que trabalho com Ninna, ela virou minha amiga me acolheu antes
mesmo de me conhecer e nunca duvidou da minha capacidade, ela é a única amiga
de verdade que fiz você sabe que as mulheres da matilha não gostam de mim, me
acham fraca, principalmente Sarah. Então eu lhe imploro para que seja bom para
Ninna porque ela é importante pra mim, ok?
–Ok Natalie, não vou mais me intrometer no seu
trabalho, se você esta contente então também ficarei feliz por você, e para
provar minha boa fé vou até passar lá na confeitaria para comprar um café o que
acha? –pergunto já sabendo a sua reação.
–Ah Lúcios nada me faria mais feliz! –ela exclama.
– E além de tudo você tem que tirar a má impressão que deixou com a Ninna, você
ir lá e gritar comigo não deixou minha amiga nada feliz. –ela ri
–A sei, ela também não é um poço de bondade, é
teimosa e briguenta, te defendeu com unha e dentes de mim. –falo lembrando–me
de como aquela garota mexeu comigo ao me enfrentar sem medo, se ao menos ela soubesse
do meu lobo acho que não teria tanta coragem assim, sorrio pensando na cena. –
Naty você sabe que não pode contar quem nos somos pra ela não é? A matilha tem
que ficar em segurança e por mais que ela possa ser sua amiga não pode saber da
nossa existência.
–Não precisa pregar o mesmo sermão de sempre,
Lúcios, claro que não vou contar nada! Não é como se pudesse dizer: “Hey amiga eu não sou totalmente humana, a
propósito eu posso me transformar em loba sempre que quero e vou viver
trezentos anos”, pensando bem se eu contasse ela iria achar que estava
brincando e iria rir achando piada. – diz rindo
–Natalie isso é serio!
–Argr você é tão dramático irmãozinho, relaxe um
pouco, você precisa achar logo uma companheira pra você, anda mal humorado e
ranzinza, agora me deixe ir porque não quero chegar atrasada no meu trabalho
até mais tarde. – diz me dando um beijo e pegando a bolsa.
Companheira...
Acho que nunca irei encontrar minha outra metade,
uma loba para ser minha alfa junto à alcateia. Nos lobos temos uma crença
contada pelos antigos que quando encontramos nossa companheira ela vem com um
cheiro especifico que só quem é o escolhido sente, e assim que nos acasalamos
nossos cheiros se misturam e ai sim, todo lobo reconhecerá que somos um do
outro. O vínculo de um companheiro ou companheira é mais que pra vida toda, é
algo único como se fosse a mesma alma e nunca pode ser quebrado, dizem que
quando um dos companheiros morre a dor é tanta que o outro não aguenta e acaba
morrendo também.
A nossa alcateia tem o hábito de unir os lobos mais
fortes em casamento para conservação da nossa espécie e como alfa, tenho que
escolher uma companheira a altura, que no caso a escolhida entre todos foi
Sarah filha de um dos anciões mais velhos e respeitados da alcateia, o problema
é que ela é tão fútil e ambiciosa que vê a oportunidade de me ter como
companheiro só pensando no posto de mulher do alfa. Venho adiando o compromisso
como posso mais meu povo quer que ele seja selado logo, e me sinto encurralado
por todos. Se ao menos encontrasse minha verdadeira companheira tudo seria
perfeito, pois um vínculo de companheira elimina qualquer outro pretendente, é
por direito e a lei mais sagrada dos lobos. Mas tudo isso é bobagem, pois é tão
raro achar uma companheira que há séculos nossa matilha não tem um caso de
união por vínculo de alma.
Saio de casa já atrasado para delegacia, como
xerife da cidade posso ficar de olho em tudo que acontece por aqui,
recentemente ouve um grupo de caçadores que vieram na região atrás de lobos e
ursos, com minha situação perante a cidade pude prendê-los para que não matem
nenhum dos meus, como alfa eu sou o mais forte da matilha e meu dever é
proteger minha alcateia como lobo, mas como humano preciso manter as aparências
e o posto de xerife é perfeito para encobrir o que preciso para manter nossa
raça em segurança.
Encontro com Petrus meu melhor amigo e segundo no
comando da matilha o beta, me esperando na delegacia, pela sua cara sei que
quer conversar e em particular. “Precisamos
conversar” ele fala mentalmente, nos lobos podemos nos comunicar em
pensamentos tanto na forma humana, quanto na forma de lobo.
“Eu sei, nem
precisava falar pela sua cara já tinha adivinhado”, falo mentalmente para
ele e seguimos até minha sala. Ele se senta e coloca os pés em cima da minha
mesa. Folgado.
–Estive ontem na casa de Marcus, ele não esta nada
contente com você, disse que já deveria ter noivado com Sarah a meses ,você
sabe como são os anciões, levam tudo ao pé da letra, eu particularmente acho
uma besteira, mas eles acham que você como alfa já passou da hora de se casar e
nomear uma companheira, alegam que a lobas fêmeas precisam de uma líder. –ele
diz com uma careta.
–Merda! –exclamo. –Petrus, Sarah não é mulher pra
mim, ela detesta Natalie sem motivo algum, é egocêntrica e só está de olho no
posto como alfa, você sabe melhor do que eu. – digo irritado.
–Eu sei ela é uma cadela, literalmente falando. –
nos rimos.
–Não sei o que fazer meu amigo, os anciões acham
que mandam na alcateia, mas esquecem de que eu sou o alfa, e não preciso me
casar com ninguém para comprovar que posso proteger nosso povo.
–Então não case oras, você pode fazer o que quiser
e quem desafia-lo pode te enfrentar em uma luta, e disputar o posto de alfa,
liderar e se casar com a megera. Está na hora de você se impor e botar esses
lobos velhos no lugar deles. –Petrus responde decidido a me apoiar, ele é um
amigo leal e uns dos melhores e mais fortes lobos da alcateia.
–Vou falar com Marcus ainda está semana convocarei
uma reunião, isso tem que acabar, não me unirei a Sarah. – respondo, já
imaginando o conflito em que os lobos iram fazer quando anunciar minha decisão.
–Bem, então e Natalie? Onde fui conhecer a
confeitaria da Ninna, aquele lugar ficou lindo e a garota me parece ser bacana,
a Naty a venera e está contente, elas me contaram que você passou por lá e que
discutiu com elas.
–Uau você parece bem intimo da proprietária,
chamando de apelido e tudo mais. –menciono irritado, não sei o porquê, mas só o
fato dele estar assim tão íntimo da marrentinha me deixou nervoso.
–Por quê? Está com ciúme da confeiteira? Não me
diga que está interessado? Se bem que a garota é linda, inteligente e cozinha
que é uma beleza, se fosse uma loba seria perfeita não acha? –ele zomba.
–Petrus, só irei dizer uma vez e como amigo é
melhor obedecer, fique longe de Marina!–eu digo serio. Porque só a menção dele
por ela faz meu lobo querer rasgar sua garganta fora.
–Cara, fique tranquilo ela não faz meu tipo, só
estou dizendo por que a garota é legal, mas não vou mexer com sua confeiteira.
–Ela não é minha, só que tive uma conversa com
Natalie está manhã e tivemos uma trégua e prometi deixá-la em paz com o
trabalho na loja, então não quero problemas com ela e sua amiga, entendido?
–Perfeitamente alfa. –ele diz rindo e se levantado
a caminho da saída da sala.
Assim que resolvo algumas papeladas na delegacia,
me pego pensando na marrenta confeiteira de longos cabelos castanhos claros,
olhos cor mel e boca carnuda rosada, Marina é uma mulher atraente, nem alta e
nem baixa ela tem o corpo com curvas, cintura fina e quadris largos e seus
seios são médios do tamanho perfeito para minhas mãos, mas sua graciosidade a
faz ser sexy sem que nem perceba, e o fato dela ser geniosa me atraiu mesmo eu
não querendo admitir, meu lado lobo se agita com ela, ontem mesmo enquanto
patrulhava as ruas de volta pra casa e a vi caminhando sozinha à noite senti
uma imensa vontade de protegê-la e fiquei irritado quando ela não aceitou minha
carona. Isso não é comum para humanas, geralmente nossos lobos não dão sinais
quando estamos envolvidos com elas, mas meu lobo se agitou dentro de mim nas
duas vezes em que estive em contato com ela. Estou ansioso, noto que já faz
dias que não me transformo e corro pela floresta, meu lobo precisa ser liberto
e decido que hoje mesmo vou entrar pela mata ao anoitecer, nada é mais
gratificante, para nos lobos, do que correr livremente e sentir a liberdade da
corrida, os cheiros da floresta e os sons dos animais que nela habitam.
São três da tarde quando resolvo sair um pouco da
delegacia e ir em busca de um café, imediatamente a imagem de Ninna me vem à
cabeça e resolvo ir a confeitaria fazer minha prometida visita a minha
irmãzinha. O lugar foi bem montado e os comentários estão sendo positivo pela
população da cidade, assim que chego noto uma pequena clientela na loja, me
aproximo ao balcão e espero minha irmã que já acena notando minha chegada, mas
está ocupada com mais duas clientes. Devido a minha visão e audição e sem falar
no olfato privilegiado pelo lobo, consigo visualizar Ninna atrás do vidro que a
separa da loja, ela está graciosa vestindo um dólmã[1]
rosa claro com botões preto, seu cabelo está com uma longa trança, sua boca
estava com um batom na cor vermelha e ela está decorando uma torta e está
cantando uma canção que está tocando no rádio, sua voz é doce e sexy e ela é
bem afinada ela dança um pouco se movendo junto ao balcão, sorri com a cena da
doce confeiteira.
–Gostaria de saber o porquê de o meu irmãozinho
estar sorrindo feito um cachorrinho quando vê seu dono? –minha irmã interrompe.
Ela olha na direção que estava olhando e vê a cena de Ninna, – Ah agora
entendi! –ela exclama. –É assim o dia todo, ela canta enquanto cozinha, a minha
sorte é que ela é afinada,
senão teria que vir trabalhar com tampões no
ouvido, sabe como é audição de lobo e tudo mais –ela ri.
–Sim ela é afinada. –sorrio. – Vim tomar aquele
café que prometi a você. –digo a Natalie.
–Ah ótimo vou pegar é pra já, maninho. – ela sai
saltitante para preparar.
–Naty, experimente isso aqui pra mim? Ninna chega
ao balcão e perde a fala quando me vê sentado esperando por minha irmã. –Espero
que não aja gritaria por aqui hoje. –ela me avisa. –Sua irmã me disse que vocês
tinham conversado e que você aceitou o fato dela estar aqui?
–Sim nos conversamos então está tudo resolvido,
fique tranquila eu só vim aqui pelo café. –respondo com um dar de ombros. Ela
parece espantada pelas minhas palavras, provavelmente estava esperando por uma
briga e não pelo fato de eu ter recuado e sido cortês.
–Oh isso é ótimo! Que bom que isso está resolvido,
onde está Natalie? –olho e a vejo servindo os clientes da loja. –Ah sim está
ocupada pelo que vejo. –ela faz cara de dúvida, olha pra mim, pra irmã e
entorta a cabeça para o lado, o que é fofo. –Quer me ajudar com uma coisa?
–pergunta cautelosa.
–Sim claro o que precisa?
–Venha aqui atrás na cozinha. –ela gesticula para
segui-la. Passo para o balcão e entro pela porta que dá acesso a cozinha, ela
está com duas formas lotadas de cookies recém–saídos do forno. – Gosta de
cookies? –pergunta. Eu balanço a cabeça concordando.
–Ah que ótimo, porque quero uma opinião sincera
sobre essa fornada aqui que preparei. Naty que me ajuda com as receitas novas
que estou testando, mas acho que ela esta me passando pra traz, porque sempre
diz que tudo que faço é maravilhoso então não sei se devo concordar com a
opinião dela pra ser franca, acho que ela tem medo que eu fique brava e a
demita. – ela cochicha rindo. –Experimente e me de sua opinião sincera, cuidado
está quente eles acabaram de sair do forno, são recheados com creme de avelã.
Eu chego perto da forma, e pego um deles e experimento. Esta crocante, morninho
e o recheio derretendo, de longe é o melhor cookie que já comi. Olho para
Marina que está esperançosa e ansiosa por aprovação encostada no balcão e
decido fazer um suspense, porque ela está tão linda demonstrando
vulnerabilidade pra mim.
–Hum. –comento dando outra mordida e fazendo cara
que ainda não sei o que dizer, mas por dentro quero gargalhar por ver sua
expressão tentando descobrir o que quero dizer.
–Hum de está bom? Ou hum essa é coisa mais horrível
que comi?
–Você fez esses cookies para vender na loja?
–pergunto e ela diz que sim com a cabeça. –Bem então temos um problema aqui
Ninna.
–O que? Pode dizer está ruim é a massa né? Eu sei
que não deveria ter posto a canela, ou seria as castanhas? Talvez tivesse que
voltar com a receita original da vovó é bem melhor que a minha? Certo está
decidido, vou fazer outra fornada. – ela fala rapidamente dando a volta ao
redor do balcão gesticulando. Eu vou até ela e coloco minhas mãos do seu ombro
para que ela possa parar e me escutar.
–Ninna, quando disse que tem um problema eu quis
dizer é que essas duas formas não vai dar nem para o começo da venda, de longe
é o melhor cookie que já comi, estão perfeitos, e eu mesmo compraria todos eles
agora mesmo. – digo firme. Ela ergue a cabeça pra cima e nossos olhos se
encontram, por um momento consigo me enxergar dentro deles e o tempo para. Meu
lobo uiva dentro de mim, e a magia ultrapassa como nevoa diante dos meus olhos
e nos envolve, sou invadido por um aroma de baunilha, lírios e chuva fresca em
um dia de primavera, respiro profundamente envolvendo a fragrância dentro de
todo o meu ser. Instintivamente trago Ninna mais perto de mim e a abraço, me
curvo ao seu pescoço e inspiro novamente e Deus, o aroma dela esse cheiro é a
melhor coisa que já senti.
Meu lobo grita dentro de mim. “Ela é minha”.
Solto-a atordoado pelo sentimento dentro de mim,
dando dois passos para trás e a realidade cai como uma explosão de fogos de
artifício. Ela é minha companheira de alma! Ninna me olha confusa, devido ao
que percebo a minha reação.
–Ok, tudo bem acredito em você então se esta
dizendo. – diz cautelosa. –Esta tudo bem Lúcios você está um pouco pálido?
–pergunta com preocupação. Eu me recomponho rapidamente.
–Tudo ótimo, não se preocupe, os cookies estão uma
delícia e não hesite em colocar eles a venda será um sucesso. Bem, agora eu me
lembrei de um compromisso
importante na delegacia, preciso ir. – digo
apontando para a porta, pois ainda não estou acreditando que finalmente a
encontrei, que finalmente eu o alfa da alcateia encontrou sua companheira e ela
é uma humana.
–Ah claro, obrigada pela ajuda, aqui tome pra você.
– ela diz, pegando uma caixinha e colocando alguns cookies pra mim. –Obrigada
por ser meu degustador. – diz rindo. Pego a caixa de suas mãos nossos olhares
novamente se encontram e minha vontade é de colocá–la em meus braços e nunca
mais soltar. Minha companheira, minha metade, meu lobo está fora controle e
quer ser liberto para ela. Agradeço e saio correndo para fora, preciso me
acalmar.
–Lúcios seu café! –Natalie grita enquanto caminho
para fora.
–Preciso ir, é uma emergência na delegacia. – a
beijo e saio já pegando meu telefone.
–Petrus, preciso falar com você urgente. –digo ao
celular.
–Estou na clareira perto do lago com Malcon–ele
responde.
–Em cinco minutos estou ai. – digo desligando o
celular. Ando pelos fundos das lojas da cidade onde dá acesso a floresta e
entro correndo, olho ao redor para ver se não há ninguém a vista, quando vejo
que o caminho está livre, deixo meu lobo sair e correr pela mata em direção aos
meu leais amigos da alcateia, meu lobo uiva de alegria pela descoberta de minha
companheira, alguns segundos depois ouço mais uivos e sei que eles também se
transformaram e estão aguardando por minha chegada.
“Alfa, vejo que está contente”, Malcon me diz por
pensamento, pois está na sua forma lobo, ele tem sua pelagem na cor areia e olhos
castanhos, já Petrus é um lobo branco com olhos azuis. Meu lobo é o maior da
nossa matilha todo negro com olhos cinza.
“Sim, nossa matilha tem o que comemorar”.
“Pois bem, amigo fale logo, já estou curioso”, Petrus rosna impaciente.
“A encontrei Petrus, minha companheira de alma”, anuncio. Os dois uivam em alegria.
“Mas como? Isso é mesmo possível? Espere quem é a loba?” Petrus pergunta.
“É Marina, Petrus, é ela, tenho certeza senti o aroma dela e na hora
soube que é minha companheira, não há como negar, meu lobo a aceitou e queria
reivindicá-la”.
“Oh merda! É humana Lúcios, terá que a transformar se é sua companheira,
sabe disso né?” pergunta. Nos “shifter[2]”
de lobos podemos transformar humanos em um de nós se os mordemos e declarar
como nosso companheiro. Passamos a magia recitando as palavras antigas de nossa
língua antiga celta, então a magia entra em seu corpo, transformando o humano
em lobo, assumindo todas nossa característica como melhora de sentidos, dom da
cura, além de mais longevidade e a transformação de seu próprio lobo. Isso é
tão raro que há séculos nenhum humano foi transformado, e em nossa matilha não
há relato que isso aconteceu entre um dos nossos.
“Eu sei, é
humana, mas também é minha companheira e vou transforma-la quando chegar a
hora, vocês sabem as regras e nada vai me impedir de marca-la como minha”
digo.
“Sabe o que isso significa não é”? –Malcon me
pergunta. “O casamento com Sarah está
anulado, uma companheira de alma, anula qualquer compromisso que você possa ter
com ela.” Uivo alto em alegria, pois em nenhum momento tinha pensado no meu
compromisso com Sarah.
“Parabéns meu amigo, recebeu um grande presente dos Deuses e agora você
tem que comunicar a alcateia e preparar sua companheira para a vida entre os
lobos” – Petrus me parabeniza.
“Obrigada amigos, farei isso imediatamente, vamos correr um pouco antes
de voltar” – declaro já saltando e correndo em direção a
floresta. Uivamos e corremos por boa parte da tarde, até enfim nos
transformamos novamente e seguimos de volta a cidade. Revelar a verdade a Ninna
será difícil, pois humanos não ensinados a naturalmente duvidar de nosso povo,
fora as crenças que existe em relação a nossa espécie, decido que primeiro
terei que conquista-la, fazer confiar em mim, para só depois mostrar meu lobo a
ela, pois uma companheira tem que vir de livre vontade ao seu companheiro, além
de aceitar e adorar seu lobo.
Mas preciso ser cauteloso, por enquanto a
protegerei e cuidarei de sua segurança e a cortejarei. Não vejo a hora de
mostrar meu lobo a ela e a sentir tocando–o. Também precisarei comunicar a
matilha, e anuncia-la minha companheira, neste momento eles também me ajudarão
a cuidar de sua segurança, pois agora ela será sua alfa junto a mim.
Capítulo 5
“Se você não é o escolhido
para mim
Então voltarei e vou
deixá–lo de joelhos
Se você não é o
escolhido para mim
Por que eu odeio a ideia
de ser livre?
E se eu não for a
escolhida para você
Você tem que parar de me
segurar desse jeito”
Trecho da canção –Water Under The Bridge–Adele
–Obrigada, senhora Lincoln, fico feliz que gostou
da torta de maçã essa receita é da minha avó ela ficaria feliz se soubesse que
está sendo tão elogiada. –agradeço novamente, os moradores da cidade tem me
recebido tão bem aqui na loja que fico emocionada por tanto carinho.
–Até mais querida, tenha uma boa tarde. –se
despedi.
–Chefa se continuarmos nesse ritmo você vai ter que
contratar mais uma funcionária, você mal sai da cozinha, para atender as
encomendas, não vai dar conta de tanta produção se continuar assim. – Naty
comenta ao notar as prateleiras se esvaziar novamente.
–Eu sei, nem acredito no tanto que estamos
vendendo! Vou precisar de uma mão na cozinha mesmo, e você mal está dando conta
de ficar no balcão, vejo que você não para um minuto, Naty pode dizer não
precisa se sobrecarregar ok, me avise se tiver sendo muito pra você. –digo,
porque é a verdade, Naty está sendo meu braço direito aqui na loja, trata os
clientes com tanta atenção e administra tudo perfeitamente enquanto estou na
cozinha trabalhando, está sendo uma rotina exaustiva, mas nunca estive mais
feliz.
–Fica tranquila, está tudo sobre controle deste
lado aqui. –aponta para si mesma. –Ah os cookies que você preparou venderam
tudo e quase tive que apartar uma briga entre duas senhoras de idade, quase
fiquei tentada e começar uma rodada de lances pra quem ia vencer a luta, ia ser
um show e tanto. –ela gargalha e eu me junto a ela.
–Sério? Uau bem que seu irmão disse que estavam
bons e que venderiam tudo. –digo espantada.
–O que meu irmão tem a ver com isso? –pergunta
curiosa.
–Ah eu o fiz experimentar um quando veio aqui hoje
mais cedo, lembra você estava ocupada atendendo um cliente, então e eu pedi sua
opinião, ele foi até que bem simpático comigo, acho que tiramos aquela má impressão
de quando nos conhecemos. –digo a ela que me olha com uma sobrancelha
levantada. –Ele teve que sair correndo logo depois, acho que teve algum
problema no trabalho não sei, mas enfim disse que venderia tudo, até dei alguns
pra ele levar pra casa. –comento limpando algumas mesas.
–Legal da parte dele, na verdade ele é um formigão
adora doces, você terá um bom cliente aqui. –ela diz com uma piscadela e eu me
ruborizo, não sei por que mais fico com vergonha. Lúcios é tão bonito e me
olhou tão intensamente quando estávamos a sós na cozinha que achei que tinha
rolado algo entre nós, mas deve ter sido impressão minha, um cara como ele
nunca olharia pra uma garota com eu. Não sou feia, não é isso, mas sou comum,
não tenho nada de especial e por trabalhar vinte e quatro horas por dia com
doces tenho que malhar muito para que todos os doces que experimento não ir
parar direto para meus quadris.
–Olá. – ouço um homem me cumprimentar, estou de
costas para o balcão, viro–me e olho no sentido da voz que me chamou. Um cara
muito grande está sorrindo pra mim, ele é forte do tipo musculoso, tem cabelo
bem curtinho estilo militar e olhos negros e uma barba por fazer, é bonito mais
não chega nem aos pés de Lúcios.
–Olá, em que posso servi–lo?
–Na verdade eu vim até aqui curioso a conhecê–la,
me falaram tão bem do lugar que precisei conferir por mim mesmo. –ele comenta
em tom de galanteio, me sinto desconfortável e tímida o homem é intenso e bem
direto.
–Fico feliz que estão comentando sobre minha loja,
todos na cidade tem sido bem receptivos com minha chegada, não tenho como
agradecer a tanta hospitalidade.
–Oi Xavier! –Natalie cumprimenta o homem.
–Hey Natalie, então é verdade mesmo que está
trabalhando aqui?
–Oh sim pode acreditar, o que você vai querer? –ela
pergunta.
–O que você me recomendaria? –ele ignora Naty e
pergunta pra mim. –Vou experimentar o que você me sugerir.
–Hum bem me deixe ver. –Xavier claramente está me
xavecando, olho pela vitrine a procura do que oferecer a este homem e vejo algo
que pode ser que ele goste. –Que tal um pedaço do bolo de café com chocolate
meio amargo? –pergunto, pois ele não parece o tipo que vai comer um cupcakes
com creme de amêndoas.
–Perfeito, como adivinhou que eu gosto tanto de
café? –ele pergunta claramente gostando da sugestão que eu sei algo sobre ele.
–Foi só um palpite. –eu respondo. –Naty você pode
servi–lo querida?
–Claro! –ela corre para lhe entregar.
Assistimos enquanto ele pega um pedaço de bolo, faz
contato visual comigo e devagar experimenta, ele ignora completamente a
presença da Natalie e se concentra em mim. – Isso é perfeito, nunca mais irei
me recuperar depois de ter experimentado essa maravilha, Marina você me viciou
e agora não tem volta. – ele fala com uma voz sedosa. Olho para Naty que está
de braços cruzados com uma cara que diz “O
que foi isso?” minha vontade é de gargalhar.
–Fico feliz que aprovou senhor Xavier.
–Senhor Marina? Assim me faz parecer um velho, me
chame somente de Xavier, por favor. – diz e eu aceno. –Seu namorado é um cara
sortudo por ter ao lado uma garota com todo –ele aponta para meu corpo de cima
a baixo – todo esse talento.
–Ela não tem namorado–Naty responde e minha vontade
é fazer ela se engasgar um cupcake por abrir a boca.
–Hum isso é uma surpresa, não posso acreditar que
ainda não tenha ninguém, mas aposto que pretendentes não devam faltar. – diz
com uma piscadela.
–Bem não há e não vai haver por um bom tempo, meu
compromisso agora é com meu trabalho. – digo, porque não gostei da sua atitude
desde o começo e não quero o incentivar.
–Claro entendo perfeitamente, mas isso não diz que
não pode se divertir enquanto seu pretendente não chega não é? –diz malicioso. Oh Senhor! Graças ao bom Deus uma cliente entra na loja
e eu corro para atendê-la.
–Com licença Xavier vou atender uma cliente, espero
que termine de aproveitar seu bolo.
–Ah querida Marina pode ter certeza que
aproveitarei.
Depois de atender a cliente, corro para o refugio
da minha sossegada cozinha e não saio de lá até ele ir embora, não gostei de
Xavier algo nele me dá medo e toda minha pele me manda correr para longe, é
claro que já levei várias cantadas de homens, mas nunca me senti assim. Depois
que ele se foi Natalie vem à cozinha.
–O que foi tudo aquilo? –ela pergunta. –O cara
estava comendo o bolo como se estivesse comendo você, parecia mais um filme
pornô e dos ruins viu. – ela ri e eu não acho graça nenhuma porque também tinha
notado só que no caso fiquei com medo.
–Você o conhece? Eu o achei um pouco atrevido
demais não concorda?
–Ah sim Xavier é membro da nossa alcat.. Err quer
dizer comunidade, ele é mulherengo, todo mundo sabe de sua fama, é só não dar
bola que ele desiste. –ela diz com um dar de mãos.
–Bem assim eu espero!
–Ninna, nos duas trabalhamos tanto essa semana que
merecemos uma diversão. – ela se apoia na banqueta da cozinha, já esta quase na
hora de fecharmos.
–E o que você tem em mente?
–Nos devíamos ir à Toca do Lobo, é um bar com
música ao vivo e têm mesas de sinuca, a cidade toda vai lá pra se divertir, nos
definitivamente devíamos ir. –ela diz com as mãos juntas. – Por favor, vamos?
Eu quase nunca vou lá, você sabe que as garotas daqui não são minhas amigas e
agora que você esta aqui nos podemos nos divertir.
–Não sei Naty, esqueceu que amanhã nos abrimos à
loja até às duas da tarde? Eu tenho que levantar de madrugada para assar os
pães. –digo.
–Eu sei, mas nos não vamos ficar até tarde, só umas
duas cervejas eu prometo! –ela diz com cara de cachorrinho.
–Ok você venceu! –digo rindo de sua dancinha feliz.
–Ah você vai amar e temos que fechar logo a loja
para nos arrumar e ficar bem gatas porque hoje a noite promete!–diz batendo
palmas.
–Você pode fechar a loja pra mim e ir Naty vou
ficar aqui e adiantar alguns doces para amanhã é pouca coisa mesmo já que não
vamos ter o movimento do dia todo.
–Então vamos combinar as oito na sua casa? Eu passo
lá para ajudar você se arrumar o que acha?
–Eu acho perfeito Natalie!
Combinamos tudo e nos despedimos, enquanto eu sigo
para minha incansável tarefa de produzir gostosuras para a Sugar Love Bakery.
As sete e quarenta Naty entra como um furacão no
meu apartamento. Ela está linda com um vestido verde de um ombro só colado e
curto e um salto tão alto que se fosse eu ficaria com medo de quebrar o pé, seu
cabelo está selvagem meio encaracolado e a make está de arrasar, está sexy, um
loirão.
–Ai meu Deus essa coisa fofa é sua Ninna? –ela diz
vendo Salém deitado no sofá nem ligando para os gritos que ela está dando pra
ele.
–Esse é Salém e de fofo não tem nada, não tenta
pegar ele senão vai ganhar uma unhada. – digo rindo porque ela já esta se
afastando e concordando com a cabeça.
–Ninna não acredito que não está pronta! –ela diz a
me ver enrolada no roupão.
–Acabei de chegar da loja, e acabei de sair do
banho então me dá um desconto, vem vamos ver o que eu tenho pra vestir, já faz
tanto tempo que não saio de casa que não sei se ainda tenho roupas pra moda
atual. Pelos próximos quarenta minutos, eu viro a própria Barbie humana da
Natalie, ela escolheu o que vou vestir e calçar, e eu estou aqui sentada sem
poder olhar para o espelho, enquanto ela alisa meu cabelo, enrola as pontas e
faz a minha maquiagem. “É só comandos,
abre o olho”, “fecha o olho”, “tomba a cabeça”, “faz biquinho”.
–Pronto, acabei, uau você está uma diva, nem parece
minha chefe meiga, está um mulherão Ninna, os caras vão cair matando em cima de
você essa noite. –ela diz com orgulho e eu tenho medo de me virar para ver o
estrago. Vou até o espelho e me assusto com a imagem da garota que olho, estou
usando um vestido antigo que nem sabia que ainda estava no meu guarda roupa,
Willian nunca me deixou usa–lo , ele é preto básico vai até ao meio das minhas
coxas , mas é bem apertado e marca todas minhas curvas, ele tem um decote V na
frente até bem comportado ,mas ao virar nas costas ele é todo transpassado e
deixa as costas quase toda nua, estou também com um salto scarpin preto, Naty
alisou meu cabelo e enrolou as pontas depois soltou os cachos com as mãos, ele
ficou com um ar sexy e bate até ao meio das costas, e de maquiagem ela fez uma
pele bem feita e aplicou delineador em estilo “gatinho” e na boca um rosinha
claro, destacou meus cílios com bastante rímel e só um pouco de blush nas
bochechas , é uma maquiagem básica mais o delineador me deixou sexy, eu adorei
a combinação, me senti mais confiante e aprovei.– Obrigada Naty ficou perfeito!
–agradeci.
–Anda vamos logo que os boys nos esperam! – ela diz
agarrando sua bolsa e nos dirigindo até a Toca dos Lobos.
[1] O dólmã (do turco dólman: "túnica) é uma espécie de túnica militar muito ornamentada.
No Brasil, essa vestimenta passou a ser
usada após a Proclamação da
República, procurando-se dar uma nova imagem aos uniformes militares.
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